07 fevereiro, 2015

Entre as Algas




ENTRE AS ALGAS

(Evocação de Luiz de Camões)


Escreve ainda sonetos; verso a verso,
a cânfora e os cabelos,
a cintura de mármore, o peito fresco,
a nuca enlaçada.
No Tejo, ao crepúsculo, a sua química de seda
evoca ainda o cetim do Oriente,
os lilases e a carne, as musas salgadas.
Entre o cravo e o gengibre,
um navio de pérolas,
e o silêncio ecoa, recortado entre as algas,
amarras, cordame, salsugem.

Os meridianos exaltados trazem ainda
a luz das caravelas, canela e triunfo,
vinho, especiarias, versos que ainda escuto
entre laços que as palavras prendem,
desprendem;
quando a maresia se solta,
a noite manuseia os seus nenúfares,
a lua desce muda, incandescente,
na cintura enlaçada.


E o sândalo desce nu à flor do rio.


Maria do Sameiro Barroso