ENTRE AS ALGAS
(Evocação de Luiz de Camões)
Escreve
ainda sonetos; verso a verso,
a
cânfora e os cabelos,
a
cintura de mármore, o peito fresco,
a
nuca enlaçada.
No
Tejo, ao crepúsculo, a sua química de seda
evoca
ainda o cetim do Oriente,
os
lilases e a carne, as musas salgadas.
Entre
o cravo e o gengibre,
um
navio de pérolas,
e
o silêncio ecoa, recortado entre as algas,
amarras,
cordame, salsugem.
Os
meridianos exaltados trazem ainda
a
luz das caravelas, canela e triunfo,
vinho,
especiarias, versos que ainda escuto
entre
laços que as palavras prendem,
desprendem;
quando
a maresia se solta,
a
noite manuseia os seus nenúfares,
a
lua desce muda, incandescente,
na
cintura enlaçada.
E
o sândalo desce nu à flor do rio.
Maria do Sameiro Barroso