23 fevereiro, 2015

Texto poético de Adão Contreiras .O Outro Eu








No clamor que te embrulha


“escreve de ti como se fosses outro”   a raiz o olhar  a caverna     um lençol de água na fisionomia do corpo    a manhã  conversando com o calor da pele    a palavra nos corredores  do invisível     o outro lado     eu  e o meu amigo em contra-mão      o Verão com chapéu de chuva e o Inverno  com sombreiro     sinal da raiz dos tempos     escreve--te      um olhar  imerso  para além      o umbigo  da palavra no convés  do corpo barco
“escreve de ti”    caranguejo da tua imagem eu sou o outro na varanda    que dizes de ti tu  tu-outro     palimpsesto     gravata  no tornozelo  de todos os dias    memória  laço esgravatada em ti     caminhante perna de pau     palavras de açúcar  ao sol-pôr     berço cheio de fadiga     escreve-te numa bandeja  púrpura       não olhes  para os teus olhos    camarada      entrar  pelas avenidas  dos teus braços      pôr lenços brancos na ponta dos teus dedos
escreve  no outro que és tu;      tempestade e amargura  solene    visão indolente  em torno de      abraço sem poeira      cavalo que galopa ao teu encontro?      tu vês o outro  na curva  do tempo?      caminhas apressado  e sem medo?     vives de perto o horizonte enraizado?      ferve alguma tempestade  na cor  do éter ?      és amigo de ti sem  anotares  os nomes que te nomeiam ?
escreveste isolado e com amargura     ladrão de lágrimas    fantasias dos enrugados pensamentos     olhos que o vento enrola na praia     pensamentos e cabras nos montados -  as vezes que isso me entrou  com  a lua , dizes  de ti!     tu  encontrado  aos pontapés pelos campos do agoiro   tartaruga       caverna filosófica    medir o tempo  abraçado à fita métrica e encontrar soluções  para amadurecer  bananas de vidro
bananas de vidro,    digo eu-tu de mim-outro ,   olha òoh  passarão  falando mentiras  com palavras verdadeiras!...a questão, dizemos os dois: é falar verdade com palavras mentirosas,     haver muitas questões  escuras entre  eu-tu e tu-mim!     ; navegar é fácil mas não dentro das palavras      dizia eu o outro  já em criança      ;para que vejas o quanto sorrir  enxuga as lágrimas
todos os egos são uma flor de laranjeira habitada      poeta herbívoro a ruminar palavras  de  feno      poesia numa atmosfera de terra desassombrada       cisternas sonoras e veludos  aos cantos da casa     ;mal sabes tu infusa de gargalos  fechados o quanto  os lábios adornam os cios       poemas de um corpo ao vento       rasgão de ti  soletrando nos abraços a  infância adormecida        cantarás os vermes da terra  quando as flores sorrirem nos cemitérios do medo

habito o teu encontro  na penumbra  da vida  perto tão perto  como  o só engolindo o nada     todos os egos são uma flor de laranjeira, dizes      acorrentado à minha voz  vislumbro o ventre incomodado  as escaramuças que te afligem enquanto não nos liquidamos  no bazar das aventuras      segue,  segue  no clamor  que te embrulha   ajeitado à voz das fontes  com os beijos do lume  que te  percute