Mestre Martins Correia
Nos porões da infância, os
pigmentos respiram
a terra úbere do silêncio,
as cores concentram o sol inteiro,
a noite díspar,
a manhã insólita.
As mãos são pedra, água-forte,
espelho rubro,
harmonia solta, aberta à flor
inteira,
ao volume, à forma, à harmonia dos
dedos.
Nos fragmentos de música, as chamas
alimentam
a cinza, o ardor, a mancha exposta,
o sopro que alastra e recompõe o
mundo,
nomeando o som, o martelo incessante,
o círculo mágico.
Os símbolos são a rosa elementar,
sinergia em botão.
No sopro partilhado, as fadas e os
duendes
conhecem o voo, a levíssima luz,
a semente de ouro.
No fluir das noites, na quimera dos
dias,
a voz da terra, arada por
sacerdotisas insones
derrama, no incenso lunar,
o negro turbilhão, o corpo,o
sangue,
a lira trespassada, a harpa
obscura:
seiva, lira, poema.
Maria do Sameiro Barroso