07 fevereiro, 2015

O Sol, tinteiro obscuro






Mestre Martins Correia



Nos porões da infância, os pigmentos respiram
a terra úbere do silêncio,
as cores concentram o sol inteiro, a noite díspar,
a manhã insólita.
As mãos são pedra, água-forte, espelho rubro,
harmonia solta, aberta à flor inteira,
ao volume, à forma, à harmonia dos dedos.
Nos fragmentos de música, as chamas alimentam
a cinza, o ardor, a mancha exposta,
o sopro que alastra e recompõe o mundo,
nomeando o som, o martelo incessante,
o círculo mágico.
Os símbolos são a rosa elementar,
sinergia em botão.
No sopro partilhado, as fadas e os duendes
conhecem o voo, a levíssima luz,
a semente de ouro.
No fluir das noites, na quimera dos dias,
a voz da terra, arada por sacerdotisas insones
derrama, no incenso lunar,
o negro turbilhão, o corpo,o sangue,
a lira trespassada, a harpa obscura:
seiva, lira, poema.

Maria do Sameiro Barroso